sexta-feira, 25 de março de 2011

O Cansaço

Zenith Andersen
Tarde morna de verão,
Preguiça na alma,
Mal estar no coração.

Uma consulta a um clínico
Seria a solução!

Consultório repleto,
Atendimento por hora de chegada.
Enfim a minha vez:

Que visão maravilhosa!
Aqueles olhos verdes me encantaram!
E, antes da clássica “anamnese”
Fui logo falando:

“O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.”

E para minha surpresa, o médico, sorrindo, continuou:

“A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -”

Rimo-nos muito da coincidência!
Gostarmos ambos do mesmo poeta:
Fernando Pessoa!

E em particular
Do mesmo heterônimo:
Álvaro de Campos!

E assim conversando...
Outras afinidades surgiram...
Não! Essas não contarei -
Direi apenas que
Não me curei do meu
Cansaço!

(Todos os conteúdos desse BLOG estão registrados pela autora, Zenith Andersen, e fazem parte de seu próximo livro: "Estados de Espírito")

segunda-feira, 21 de março de 2011

Migalhas de amor

Zenith Andersen
Essas migalhas de amor
Não me pertencem...
Quando teus olhos azuis
Me fitam,
Não é a mim que fitam...
Quando me tocas,
Não tocas a mim...
Se me abraças,
Não é a mim que abraças...
Se me possuis,
Não te possuo...
Essas migalhas de amor
Não me  pertencem...


(Todos os conteúdos desse BLOG estão registrados pela autora, Zenith Andersen, e fazem parte de seu próximo livro: "Estados de Espírito")

segunda-feira, 14 de março de 2011

Solidão a dois

Zenith Andersen
Não há mais diálogo entre nós.
Os planos, a alegria, os interesses...
Tudo acabou,
Como num passe de mágica.
De repente acabou:
Os passeios de mãos dadas,
O afago carinhoso,
Tudo acabou...
Mas se ao menos restasse
A amizade,
A lembrança dos momentos bons,
A compreensão...
Se a amargura não chegasse,
Se uma ternura, pequena até,
Restasse...
Ainda poderia, o amor, sobreviver...
Poderia esperar...
Quem sabe o tempo,
Apagasse esta amargura,
Este desencanto,
Esta solidão a dois...


(Todos os conteúdos desse BLOG estão registrados pela autora, Zenith Andersen, e fazem parte de seu próximo livro: "Estados de Espírito")

segunda-feira, 7 de março de 2011

Brincadeira

Zenith Andersen
Tudo começou com uma brincadeira...
Num momento em que meu coração
Era só amargura,
Eu estava só,
Carente de afeto.
E aquela voz ao telefone me acordou.
Por que não?
Uma ilusão nos trás alento...
E aquela voz me envolveu docemente...
Um amor espiritual,
Cheio de mistério,
Repleto de encantos,
E eu sonhava...
E eu vibrava...
E eu vivia...
E eu mentia...
E eu amava...
E eu desejava... Quem?
O quê?
Para quê?
Mas... Há sempre um mas...
O sonho acabou.
A realidade me fez despertar.
Para não mais mentir,
Não mais enganar,
Não mais viver...
E continuar a sofrer.

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quinta-feira, 3 de março de 2011

Sobre uma agenda

Zenith Andersen
Rasguei todas as folhas do meu diário
Que registravam amarguras, decepções, angústias...
Para que recordá-las?
Escrevendo-as, fiz uma terapia
Relendo-as, traria de volta os sofrimentos, as lembranças já quase esquecidas...
Recomeçar a viver com o que sobrou
É a sabedoria.

(Todos os conteúdos desse BLOG estão registrados pela autora, Zenith Andersen, e fazem parte de seu próximo livro: "Estados de Espírito")